terça-feira, 5 de abril de 2011

Imagem com história LIX

No corrente ano, passam 10 anos sobre o último campeonato arrecadado pelo OCB, 20 anos sobre a conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus e, ainda, 25 anos sobre a subida à I Divisão, façanha de que vamos falar. «O sonho feito uma realidade». Barcelos vivia, em 1986, no fulgor da indústria têxtil e, após vários campeonatos de nível internacional, que incutiram «exigência» nos barcelenses, o clube da terra alcançou, finalmente, o patamar que lhe era devido.
Abaixo, temos dois recortes de jornais da época e, pelo meio, está transcrita toda uma reportagem sobre o OCB, após a subida de divisão. O segundo recorte mostra-nos o nome de todos os elementos que compunham a equipa oquista em 1986.
«Pela primeira vez no seu historial, o Óquei Clube de Barcelos ascendeu à I Divisão do hóquei em patins. Fundado no começo do ano de 1948, por um grupo de rapazes, foi-se enraizando e, hoje em dia, é mais um dos clubes que vai medir forças com o Porto, Benfica, Sporting e outros. Foi um sonho de há muitos anos que se tornou realidade. Todos os barcelenses diziam «já é tempo de o nosso clube estar na I Divisão. Barcelos merece isso.» E mereceu: aí está a equipa da «catedral» do hóquei na divisão maior. Os barcelenses viram passar pelo seu pavilhão dois campeonatos da Europa de juniores, um campeonato do mundo de seniores e, por último, um «europeu» de seniores, de tão triste memória. Em todos eles, Portugal foi o vencedor, excepção feita ao último, como muita gente ainda se recorda. Sempre se assistiu a bom hóquei em Barcelos e, por essa razão, o público é exigente, não admitindo que o seu clube cometa erros ou perca. Agora, com a I Divisão, tudo vai ser diferente e a estruturação do clube terá de ser forçosamente alterada. A começar, os sócios (cerca de 1 700), que pagam uma quota mensal de 100 escudos, terão de desembolsar mais uns tostões. A Divisão maior do hóquei patinado português assim o exige. Jorge Coutinho é, actualmente, o presidente do clube. Homem polémico, que teve um ponto importante da sua actuação na questão da fase final da II Divisão. Comandou, com todos os sacrifícios, uma equipa que teria de subir de escalão. Há três anos que o seu clube andava a lutar pela subida, mas em vão...

«ALTOS VOOS NEM PENSAR»

Depois da festa e dos foguetes lançados em Barcelos, o Óquei pensa já no futuro. Na I Divisão, na Taça de Portugal, em fazer um bom trabalho e em conquistar um bom lugar. Sobre o futuro, Jorge Coutinho salienta:

- Temos de encarar o futuro com realismo e com a noção de que somos estreantes na I Divisão. Como tal, não podemos partir com aspirações a altos voos, pois isso só acontecerá com o decorrer dos tempos. O que queremos, sim, é solidificar uma posição, ou seja, mantermo-nos muitos anos na I Divisão.

- O público barcelense é muito exigente, isso não poderá trazer problemas?

- Em Barcelos, está mais do que demonstrado o afecto dos associados e do público pela modalidade. Tudo fruto dos campeonatos a nível internacional que aqui tiveram lugar. Devido a isto, todos são muito exigentes. Habituaram-se a ver bons jogos de hóquei e, por isso, exigem que a sua equipa esteja sempre ao mesmo nível.

- E sente-se esse reflexo nos jogadores?

- É evidente que sim. Os jogadores sentem o «peso» do pavilhão. A massa associativa não perdoa muitas falhas. Mas, apesar disso, o público acorre às chamadas que o Óquei faz. O número de sócios tem vindo a crescer, de dia para dia, e, com a subida de divisão, espera-se que se venham a verificar muitas mais adesões.

«TUDO VAI AO HÓQUEI MINHA GENTE»

Em Barcelos, quando há jogo de hóquei em patins, «tudo pára». As ruas ficam desertas, não há vivalma. Tudo se concentra no recinto barcelense. As bilheteiras, pouco tempo depois, fecham. A explicação é dada por Jorge Coutinho:

- A modalidade proporciona que venham aos jogos não só os homens, mas também as senhoras. A maior parte dos associados, e daqueles que vêm ver o Óquei, trabalham nas fábricas, durante a semana, e, ao fim-de-semana, aproveitam, muitos deles, para tratar do campo e dos cultivos. Depois, à noite, todos se concentram no pavilhão. E, apesar de tudo, são muito exigentes e já sabem muito da modalidade.

Durante a época que está prestes a terminar, e que deu muitas alegrias à turma comandada por Pedro Simões, o clube gastou 3 200 contos com o hóquei, que, a comparar com outras equipas, é uma quantia irrisória. Os jogadores utilizaram cerca de 190 sticks e, nos treinos, apesar de os sticks, patins e luvas serem dadas pelo clube, o resto do equipamento é dos próprios jogadores. Equipamento do clube só para os jogos. Até mesmo as toalhas são trazidas de casa pelos hoquistas.

«COMEÇÁMOS E ACABÁMOS AINDA MELHOR»

Pedro Simões comandou a equipa do princípio ao fim. Antigo jogador do Académico de Braga, passou, depois, a treinar a equipa de juniores do Óquei e, este ano, encontra-se à frente da equipa sénior. Quanto à época, prestes a terminar, foi feito um balanço pelo técnico:

- Começámos muito bem. Disputámos a Taça de Portugal, onde, de eliminatória em eliminatória, o nosso rendimento foi subindo, de forma notória. Quando nos qualificámos para os quartos-de-final, alterámos bastante a preparação que tínhamos (com vista ao campeonato nacional). Como fomos longe na Taça de Portugal, houve que acelerar a preparação. Surgiu-nos pela frente o FC Porto, que é, sem dúvida, uma das melhores equipas do mundo, e fomos eliminados. Quando entrámos no «Nacional» houve um abaixamento de forma, pois fomos defrontar equipas completamente diferentes, já que eram clubes mais modestos e que não davam tanta luta. Tivemos, então, a determinada altura, que quebrar a forma, para, no final, estarmos outra vez na «mó de cima». Todos os jogadores corresponderam ao que lhes foi pedido e todos estavam à altura. Quando havia necessidade de colmatar algum lugar, os substitutos desempenhavam o seu papel o melhor possível.

Óquei de Barcelos, 37 anos à espera que um sonho se tornasse realidade. Estar na I Divisão Nacional...»

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